sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO





Aureliano de Figueiredo Pinto é reconhecidamente um dos mais representativos poetas gauchescos do Rio Grande do Sul. Médico, poeta e romancista, nasceu na Estância São Domingos, município de Quevedos, no primeiro dia de agosto de 1898, filho de Domingos José Pinto e Marfisa de Figueiredo Pinto. Alfabetizado em casa, pela própria mãe. Iniciou seus estudos no Ginásio Santa Maria, terminando no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre.
Fez os dois primeiros anos de medicina no Rio de Janeiro, mas formou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1931. Publicou os primeiros poemas em 1914, na revista “Reação”, colaborou com a “Revista Kodak”, com poesias líricas e simbolistas, também com a “Ilustração Pelotense”. Assinava suas obras com o pseudônimo “Júlio Sérgio de Castro ou J.S. de C”. Divulga seus poemas em revistas e no “Correio do Povo”. Seu poema “Toada de Ronda” introduz uma estética moderna de linguagem em nosso estado, inserindo a literatura rio-grandense num amplo movimento de renovação da lírica gauchesca iniciado no Uruguai por Bartolomé Hidalgo.
      Teve Aureliano profunda ligação com Tupanciretã onde residiam muitos familiares e amigos tendo inclusive integrado uma força provisória na Revolução de 30 e 32, na primeira como 2º Sargento Amanuense e na segunda como Capitão Médico.
       Quando se dá conta de que muitas de suas prescrições médicas não são cumpridas pela dificuldade financeira que não permite aos pacientes aviar as receitas, elabora uma estratégia muito curiosa: coloca um código nas receitas. Conforme o mesmo, a conta é debitada pelo farmacêutico para um ou outro de seus amigos.
          Em 1937, passa a dirigir o posto de Higiene de Santiago.        No ano seguinte, casa-se com Zilah Lopes, de cujo casamento, nasceram José Antônio, Laura Maria e Nuno Renan. Tempos depois, seria o fundador do Hospital de Caridade de Santiago. Em 1941, uma rápida passagem por Porto Alegre, Aureliano assume a subchefia da Casa Civil no governo do interventor Cordeiro de Farias. Fica poucos meses e retorna a Santiago, quando então reunirá seus poemas visando publicá-los em livro. O seu objetivo, porém, estava longe de buscar a fama de literato: “o menos interessado no bestseller sou eu. O que nos cadernos se contém, são, a seu modo, um registro de instantes e de vidas do campo. Flagrantes, esses campeiros. Isso o que procurei traduzir. A fama, a glória, estou com o grande Lobato, tudo é lata”. Em 1959, a Editora Globo publica Romances de Estância e Querência, Marcas do Tempo. Aureliano já estava doente de câncer e poucos dias depois da publicação, em 22 de fevereiro, morre o médico poeta.
        Em 1963, a Editora Sulina publica Romances de Estância e Querência II e, em 1973, sai pela Editora Movimento o romance Memórias do Coronel Falcão. Posteriormente, Noel Guarany compõe melodia para alguns dos seus poemas na obra Noel Guarani canta Aureliano de Figueiredo Pinto.
        A biografia de Aureliano Figueiredo Pinto e sua obra atestam que foi um homem do seu tempo, sensível a um povo do qual cuidou da saúde e retratou a vida, imortalizando e imortalizando-se através de sua literatura.
           Exercitou Aureliano um hábito muito peculiar, o de escrever nos formulários de receita e prescrições médicas e alguns foram guardados por amigos como esse que acabou em minhas mãos por obra do Luís Adolfo Bittencourt Dias que se trata de um bilhete ao irmão José de Figueiredo Pinto, conhecido pelos amigos como Cecito Pinto e pelo grande público como Zeca Blau, aqui Aureliano traduz o Cecito para compadre Cito e introduz em meio a saudação e ao comunicado da remessa de documentos (procurações) um causo, ou melhor, um meio causo mas que entre eles, um meio causo já bastava para terem o entendimento completo:
- Compadre Cito
Abraços aos teus e muitas saudades à minha
madrinha.
Aqui vou puxando lindo na
canga.Quando volto da campa-
nha me lembro daquelas boba-
gens do velho Castro com o
compadre Ingelino quando este
voltava de tropeada: Gritava
pela Bardina e não desencilhava o cavalo...
Aí vão as procurações
Recuerdos do mano velho
Aureliano
A seguir cópia do original o qual me inspirou a iniciar esse livro, não com um causo, mas com um meio causo, pois em se tratando de Aureliano Pinto não precisava ser mais que meio causo, mas de uma sutileza leva o leitor a completá-lo sem dificuldade pelo que faz antever em sua subjacência.
Um causo que foi e continua sendo contado por todos os
cantos desse pago, bolichos, galpões, ramadas, em diversas variantes e nuances foi escrito num poemeto do mestre Aureliano publicado no seu livro Romances de Estância e Querência. Não sabemos se os contadores de causo criaram suas versões a partir do poemeto ou se o bardo teria sintetizado nesse poemeto um dos tantos causos que ouviu pelas madrugadas nas estâncias.
Do Compadre Cortez
Chovendo...vinha emponchado
O João Ladino mui concho;
A ovelha em baixo do poncho
Quando encontrou desconfiado
O compadre proprietário...
-“Que leva compadre João
Pelo seu poncho tapado?!”
-“Compadre! É o seu afilhado!
Desculpe não dar benção
Porque anda muito gripado...”
Uma outra muito boa do mestre Aureliano me trouxe o Luís Pacheco da Luz:
     - Tenho o privilégio de ter um primo do Aureliano aqui em Tupã como amigo, grande amigo(ele estava conosco lá no Pedro Luíz aquela noite) conta causos lindos do Aureliano, principalmente no que se refere ao exercício da medicina. É um índio da pura cepa, lidou lides de campo, mas é culto e de ótima prosa, conhece o mundo, tem a escola da vida e chama-se Jorge Clarimundo Ourique Pinto. Conto ligeirinho um meio causo do Aureliano, que ouvi do Jorge.
     Havia em Santiago um sujeito criado pelo estancieiro Silvio Aquino ao qual, por brincadeira, apelidaram de Oceano Atlântico. Numa noite de tormenta e aguaceiro, que já durava uns três dias, a esposa do “Oceano” sentindo as dores do parto, pois estava a dar a luz, pede que este chame o médico. Lá se vai o sujeito bater na janela do Aureliano, o qual acorda e pergunta:
- Quem é?
Lhe responde o sujeito:
- É o Oceano Atlântico...
E o Aureliano falando para consigo :
- Virgem Maria, o Oceano Atlântico batendo na minha janela já tá tudo morto em Santiago.

(Tupanciretã-Tempo de (In)Confidências- Moisés Silveira de Menezes)